A dor é uma experiência universal, mas o que nem todos sabem é que ela não é igual para todos. A Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) classificou, em 2018, três tipos principais de dor: nociceptiva, neuropática e nociplástica. Entender essas categorias é essencial para um diagnóstico correto e um tratamento eficaz.
Neste artigo, explicaremos cada tipo de dor, suas características, como são diagnosticadas e as opções de tratamento disponíveis.

O Que é a Dor?
A dor é o sistema de alarme do nosso corpo. Assim como uma casa equipada com sensores contra fumaça, arrombamentos ou vazamentos, nosso corpo possui receptores espalhados por todo o sistema nervoso, prontos para identificar ameaças. Esse sistema é essencial para nossa sobrevivência, pois nos alerta sobre lesões ou doenças que precisam de atenção. Agora, vamos explorar os três tipos principais de dor.

1. Dor Nociceptiva
A dor nociceptiva é a mais comum e ocorre quando uma lesão ou doença ativa os receptores de dor. É a forma como nosso corpo nos alerta sobre um problema, como uma torção, queimadura ou apendicite.
Características:

  • Relacionada a lesões nos tecidos (pele, músculos, órgãos, etc.).
  • É tipicamente aguda, ou seja, de curta duração, e tende a cessar quando a lesão é curada.
  • Exemplos incluem cortes, fraturas, cólicas menstruais, ataques cardíacos e cirurgias.

Analogia:
Imagine que há um incêndio em sua casa. O alarme dispara e aciona os bombeiros. Nesse caso, o alarme está funcionando corretamente, avisando sobre uma ameaça real.

Tratamento:

  • Compressas de gelo ou calor.
  • Medicamentos como anti-inflamatórios, paracetamol e, em casos severos, opioides.
  • Técnicas como estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS).

2. Dor Neuropática
A dor neuropática é causada por uma lesão ou disfunção do próprio sistema nervoso. Diferente da dor nociceptiva, não há uma lesão evidente nos tecidos, mas sim nos “fios” que enviam os sinais de dor ao cérebro.
Características:

  • Pode ser crônica ou aguda, dependendo da causa.
  • É frequentemente descrita como queimação, formigamento, dormência ou choques elétricos.
  • Exemplos incluem neuropatias periféricas, lesões na medula espinhal, esclerose múltipla e compressões nervosas.

Analogia:
Imagine que os fios do sistema de alarme da sua casa foram cortados ou danificados. O alarme dispara, mas não por causa de uma ameaça externa, e sim porque o sistema está comprometido.
Tratamento:

  • Antidepressivos e anticonvulsivantes para modular os nervos e neurônios.
  • Medicamentos tópicos, como lidocaína.
  • Técnicas avançadas, como uso de canabinóides ou cetamina. ●

3. Dor Nociplástica
A dor nociplástica ocorre quando há alterações no sistema nervoso central, muitas vezes como consequência de uma dor nociceptiva ou neuropática que não foi tratada adequadamente. É uma forma de dor crônica em que o corpo continua “sentindo dor”, mesmo após a cicatrização completa do tecido. Características:

  • Não há lesão atual ou disfunção evidente no sistema nervoso.
  • Associada a condições como fibromialgia e dor crônica primária.
  • Frequentemente acompanhada de medo, ansiedade e cansaço extremo.

Analogia:
Imagine que houve um incêndio em sua casa, mas tudo já foi restaurado. Mesmo assim, a família continua traumatizada, com medo de usar a cozinha ou viver normalmente. O alarme pode continuar disparando, mesmo sem motivo.

Tratamento:

  • Terapias mente-corpo, como meditação, mindfulness e terapia cognitivo-comportamental.
  • Técnicas para “retreinar” o cérebro, ajudando o sistema nervoso a reconhecer que a ameaça já passou.
  • Exercícios físicos e atividades que promovam relaxamento e autocompaixão.

Como Diagnosticar os Três Tipos de Dor?
O diagnóstico correto é feito com base em um bom histórico clínico, exame físico e, quando necessário, exames complementares. Em muitos casos, o tipo de dor pode ser identificado por:

  • Descrição dos sintomas.
  • Fatores que pioram ou aliviam a dor.
  • Triagem de saúde mental para identificar sintomas de medo ou ansiedade.
  • Testes específicos, como ultrassons ou ressonâncias, para excluir causas físicas subjacentes.

Um Olhar Individualizado para Cada Paciente
É importante destacar que um paciente pode apresentar mais de um tipo de dor ao mesmo tempo. Por exemplo, uma pessoa com artrite (dor nociceptiva) pode desenvolver medo exacerbado da dor, que a paralisa (dor nociplástica). O tratamento deve ser personalizado, considerando todas as dimensões da dor.

Em resumo
Entender os diferentes tipos de dor é fundamental para buscar o tratamento correto. Se você ou alguém que conhece convive com dores persistentes, é essencial consultar um médico especialista em dor para que possa identificar a causa e oferecer o cuidado adequado.
A boa notícia é que, independentemente do tipo de dor, existem tratamentos eficazes que podem devolver qualidade de vida e bem-estar. Você não precisa viver com dor. Busque ajuda e dê o primeiro passo para transformar sua realidade.